Laboratório gráfico queer — encontro 4

IMG_6035No quarto encontro levantamos a questão da normatividade nas publicações. Para além do problema das fronteiras das línguas e traduções, é possível superar a dicotomia forma X conteúdo? Projeto X processo? Como desnormatizar as operações e decisões editoriais e de design gráfico? Como desviar dos estabelecidos cânones? Cada integrante levou exemplos de publicações que de alguma forma abordam as margens e interceções entre conteúdo e forma. Pensar a estrutura de um livro em projeto editorial é tratar da forma do projeto. A forma não é apenas vinculada ao design mas também a escolhas e decisões editoriais. O design por vezes traz um excesso que confunde ao invés de ressaltar e trabalhar no mesmo sentido do conteúdo. No caso de uma publicação que questione os cânones tanto das normas da língua, quanto editoriais e de desenho gráfico, como orquestrar o projeto para além dessa dicotomia forma X conteúdo? É possível superar essa forma binária de entendimento de um projeto?

Além dessas questões, o problema da normatividade na cidade foi  levantado por Thiago Carrapatoso, que propôs levar a problemática discutida no grupo sobre língua para a vivência na cidade para pensarmos dentro do projeto Cidade Queer. Como repensar a sinalização das placas de ruas ou uso do espaço público? Propor uma nova sinalização para enfatizar o uso público por exemplo é cuirificar um pouco a cidade.

 

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Laboratório gráfico queer — encontro 2

Screen Shot 2016-06-05 at 7.19.03 PMO segundo encontro se inicia com a retomada da questão da tradução do termo queer e o problema das línguas latinas referente ao gênero.

Abordar queer para além da questão de gênero e sexualidade é trazer de volta suas raízes etimológicas/históricas? Tudo o que não se encontra em definitivo, categorizado, catalogado, é queer? O artista-ornitorrinco. O ciborgue, awkward, unheimlich (o estranho familiar, inquietante, ameaçador). Mais interessante talvez do que a tradução do termo seria fazer uma lista de palavras análogas para dar conta de queer enquanto conceito que queremos abordar no Laboratório e no projeto Cidade Queer.

“Podemos reunir todas aquelas propriedades de pessoas, coisas, impressões sensórias, experiências e situações que despertam em nós o sentimento de estranheza, e inferir, então, a natureza desconhecida do estranho a partir de tudo o que esses exemplos têm em comum”

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palavras análogas

estranho, divergente, disruptor, imigrante, diferente, invertido, esquisito, perturbador, irreconhecível, menor, cuír, ativista, libertino, marginal, apartado, inoportuno, torto, desavergonhado, alheio, meliante, degenerado, inquietante, impertinente, anormal, esquivo, excêntrico, ermo, singular, assaltante, desviante, imigrante, diferente, invertido, esquisito, irreconhecível, anômalo, anormal, atípico, bizarro, defeituoso, deformado, desviado, duvidoso, errado, esdrúxulo, estapafúrdio, estrangeiro, estropiado, excêntrico, excepcional, exótico, extraordinário, extravagante, grosseiro, imperfeito, inabitual, incomum, indecente, infrequente, intruso, irregular, mal-acabado, oblíquo, refugiado, sem-vergonha, tosco, traiçoeiro, transviado, vagabundo

 

A língua produz um mundo. A linguagem, a língua falada, se transforma o tempo todo para dar conta das transformações sociais, bem como tais transformações afetam nossa língua. Pajubá foi um exemplo levantado, durante o encontro, de linguagem que foi se transformando e se imbricando em diferentes meios sociais, uma língua de resistência que atravessou algumas fronteiras que agora “está na novela”.

A linguagem escrita por sua vez é dura e estática, não dá conta da transitoriedade, de não definições. Ao tentarmos a solução do uso do X no lugar do artigo onde existe a flexão de gênero das línguas latinas acabamos imponto uma não fala, uma espécie de bloqueio vocal. A consoante não permite fala e o que transforma a linguagem é a fala em exercício. E se substituirmos por uma outra vogal?

 

Laboratório gráfico queer — encontro 1

No primeiro encontro do Laboratório problematizamos a questão da normatividade e padrões de representação predeterminados. Tomando como ponto de partida alguns exemplos, como uso de cores para diferenciar sexo e tipografias pré-estabelecidas em sinalização urbana e softwares, cada integrante foi trzendo um pouco de sua experiência. Seria possível fugir da normatividade sem impor ou estabelecer uma nova norma? Talvez o único meio a partir do qual pode representar sem se basear em pré-definições seria a própria voz. A escrita com próprio punho. A autorepresentação.

LGQA partir do conhecimento de cada um, cada background, foram sendo construídos nexos de relações sobre os temas abordados. Durante o encontro, realizamos buscas e pesquisas no computador que impulsionavam a discussão. Uma questão basal que tomou foco do encontro foi o termo queer. Qual significado essa palavra tem em nosso âmbito? Ficou muito claro que no inglês o termo tem uma etimologia e história clara, ele é carregado de sentidos vários. Ao importarmos “queer” (cuja raiz etimológica não nos remete a nenhuma relação) vinculamos apenas ao sentido da teoria queer, relacionando à temática de gênero e sexo. Quando pensamos o termo “queerness” do programa Cidade Queer é muito claro que não é apenas de gênero que estamos tratando, mas de um viés includente na cidade em oposição à normatividade. Temos então um problema de tradução e comunicação. Como comunicar esse queer com sentido maior? Seria preciso traduzir?

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Nessa primeira experiência juntos foi possível criar um arcabouço material a partir das discussões que foi sendo salvo no Pinterest: pinterest.com/jliaayerbe/laboratório-gráfico-queer/. A ideia é que no decorrer do programa essa seja uma ferramenta de uso comunitário aberto.