Acronymia em São Paulo

projeto da residência de Jean François-Prost

texto Raphael Daibert

“Esses novos acrônimos serão em defesa das causas marginais, de atitudes de vidas urbanas alternativas. A ideia é que reflitam a precariedade ou a ausência de alguma particularidade nos espaços públicos, subvertendo uma marca ou sigla de uma empresa lucrativa (como KFC, CVC etc). É criar um espaço de novas siglas e acrônimos que defendam diferentes direitos na cidade”. Assim Jean-François Prost, artista canadense proveniente do Québec começa a explicar seu processo de pesquisa em São Paulo, durante uma residência de três meses em 2016 com a plataforma Lanchonete.org, dentro do programa Cidade Queer.

Seu projeto intitulado Acronymia tomou forma anteriormente na Bienal de Liverpool, em 2006. Por meio de diversos eventos, em diversos locais e com um público variado em cada um deles, uma versão do projeto artístico se realizou em São Paulo durante os meses do artista na cidade.

IMG_6790fotos Jean-François Prost, modelos Lua Lucas

Com o intuito de explorar uma linguagem além da comercial normalmente utilizada quando são empregadas as siglas, esses novos acrônimos não convencionais foram criados a partir de diversos encontros com diferentes artistas e pessoas do meio da arquitetura, da antropologia, geografia urbana, performance etc. Em parceria com o projeto desenvolvido no Ponto Aurora, intitulado Laboratório Gráfico Desviante, certas “acronímias” indecifráveis foram tomando forma progressivamente, trazendo consigo algum significado relacionado ao espaço público, às relações das pessoas com a cidade.

Jean-François Prost, em colaboração com outros parceiros como o Festival Cocidade ou o projeto Zona da Mata(hyperlink) confeccionou camisetas – uma vez no quintal do Goethe-Institut São Paulo e outra em um domingo no Minhocão – nas quais as “acronímias” foram impressas para que fossem performadas pela cidade por quem as usasse. A ideia de levar essas siglas desconhecidas, como a TSO (Trans Sem Oportunidade) ou GGG (Gays Gentrificam Gays), pelas ruas é que se crie um diálogo entre desconhecidos pela curiosidade de entender o que aquilo significa. “Por defender uma pluralidade urbana na qual pontos de vista minoritários devem ser trazidos à tona é o motivo de termos impresso coletivamente estes símbolos em camisetas”, defende o artista.

Mala embaixo da cama / Suitcase Under the Bed

Dia 9 de setembro, a partir das 18h em parceria com .Aurora temos o prazer de convidá-lxs ao workshop “Mala embaixo da cama”, proposto pelos artistas Ajamu Ikwe-Tyehimba, Patrick Hebert e Eduardo Carrera.

Como parte de uma série de eventos públicos com a presença de convidadxs internacionais e locais do Cidade queer (Lanchonete.org + Musagetes), dia 9 de setembro, às 18h em parceria com .Aurora temos o prazer de convidá-lxs ao workshop “Mala embaixo da cama”, proposto pelos artistas Ajamu Ikwe-Tyehimba, Patrick Hebert e Eduardo Carrera.

 

Mala embaixo da cama

Quais são os itens que você guarda, estima e se importa relacionados à sua própria identidade sexual e de gênero ou à de outra pessoa? Alguns desses itens
nunca chegaram a ver a luz do dia? Quais são as memórias, sentimentos,
emoções, segredos e fofocas associados a esses materiais?

Essa brincadeira única de caráter íntimo e informal irá incentivar participantes a compartilhar e dar voz a seus arquivos pessoais. Sinta-se à vontade para trazer efemeridades como fotografias, cartas de amor, objetos de fetiche, sex toys, livros, músicas, flyers e pôsteres de eventos que você participou, peças de roupa das pessoas que você ama, revistas etc.

O que pedimos é que você revire suas caixas e álbuns pessoais e venha compartilhar com outras pessoas a história que você viveu, de maneira estimulante, empolgante e atípica.

Para informações sobre todas nossas atividades, acesse: cidadequeer.lanchonete.org

Evento no facebook: www.facebook.com/events/1236011423110336/
  

   
Suitcase Under the Bed
As part of a serie of public events by Cidade Queer (Lanchonete.org + Musagetes), with local and international guests, for September 9th at 18h, in partnership with .Aurora, we would like to invite you to take part of the workshop “Suitcase Under the Bed” by the artists Ajamu Ikwe-Tyehimba, Patrick Hebert and Eduardo Carrera:

mala_EN

What are the items have you kept, cherished and cared for in relation to your own or someone else’s sexual and gender identity? Have some of these items never seen the light of day? What are the memories, feelings, emotions, secrets, gossip associated with these materials?

This one-off intimate and informal play-shop will encourage participants to share and give voice to their own personal archives. Feel free to bring along ephemera such as photographs, love letters, fetish objects, sex-toys, books, music, flyers/posters from events you have attended, items of clothing from loved ones, magazines, etc.

We are asking you to rummage through your boxes, private albums and come and share with each other your own lived history in stimulating, exciting and unusual ways.

For more information about all our activities: cidadequeer.lanchonete.org

Facebook event: www.facebook.com/events/1236011423110336/

 

Projeto CABINE – cineclube Aurora

O espaço .Aurora e o programa Cidade Queer têm o prazer de receber o projeto CABINE dos artistas Bruno Mendonça e Natalia Coutinho. Dias 30 de Junho, 7 e 14 de Julho, 20-23 hrs no Aurora e 21 de Julho, 19-23 hrs durante o Janta no Casarão do Belvedere.

Cineclube .Aurora + Cidade Queer

O espaço .Aurora e o programa Cidade Queer, desenvolvido por Lanchonete.org com o apoio de Musagetes, tem o prazer de receber o projeto CABINE dos artistas Bruno Mendonça e Natalia Coutinho.

O projeto CABINE surgiu de um intenso processo de interlocução nos últimos anos entre os artistas e para eles consiste em uma publicação espacializada através de materiais audiovisuais e impressos: uma espécie de zona discursiva e dialógica onde os artistas expandem esse processo e exibem parte do cruzamento de suas pesquisas.

A partir de processos de montagem e manipulação de materiais audiovisuais que fazem parte de suas pesquisas, os artistas criam um outro produto audiovisual a partir da apropriação de filmes e vídeos, inteiros ou não – no caso se utilizando de excertos, fragmentos e stills – criando uma espécie de hipertexto ou metanarrativa que vai se construindo a partir de ligações ora diretas, ora indiretas e muitas vezes subjetivas. É uma espécie de outra-escrita que surge a partir destas ligações. A temática queer é central neste trabalho, abordada em sua abrangência. Mais especificamente para esta edição do Cineclube adiciona-se à discussão entorno do termo queer sua relação com a cidade. Serão apresentadas ao público durante o mês de julho três vídeo-instalações juntamente com mobiliários contendo os materiais impressos, e uma performance final. Nos dias 30 de Junho, 7 e 14 de Julho o projeto acontece no .Aurora, e a performance final se dará dia 21 de Julho, como parte do encontro mensal do Cidade Queer, nomeado Janta, no Casarão do Belvedere.

SERVIÇO:

Cineclube Cabine + Cidade Queer

30 de Junho, 7 e 14 de Julho, 20-23 hrs

Local: .Aurora

Rua Aurora, 858, República, São Paulo

Cineclube .Aurora no Janta

21 de Julho, 19-23 hrs

Local: Casarão do Belvedere

Rua Pedroso 267/283 e Martiniano de Carvalho 439, São Paulo

Arte e feminismos no combate ao autoritarismo

O evento “Arte e feminismos no combate ao autoritarismo” foi um encontro para discutir possibilidades políticas e conexões afetivas em tempos difíceis, com foco na arte e feminismos como campos de resistência e diversidade. A programação teve a participação de ativistas, feministas, pesquisadoras, artistas e editoras, e o apoio do programa Cidade Queer (Lanchonete.org e Musagetes) e Jornal de Borda.

Além das três mesas de debate houve lançamentos do Jornal de Borda 3 e Ensaio 6 – “Por que não houve grandes mulheres artistas?” de Linda Nochlin, no .Aurora.

CONTEXTO

Neste exato momento, muitos artistas ocupam prédios da Funarte em cidades brasileiras. A reitoria da Unicamp está ocupada, e os secundaristas lutam pelo direito à educação. Entre as reivindicações dos que resistem está a volta da presidenta democraticamente eleita.

A primeira mulher presidente do país foi destituída do cargo em plena Conferência Nacional de Mulheres, momento em que se apontava a necessidade de criação do Sistema Nacional de Políticas para as Mulheres.

PROGRAMAÇÃO

11-13h / Combate 1: Ativismo, direitos sexuais e feminismos
Debatedorxs
Rita Quadros / ativista lésbica feminista
Jackeline Romio / ativista do feminismo negro
Mediação: Fernanda Grigolin / Jornal de Borda | Tenda de Livros

Rita Quadros falará da história das ações das mulheres lésbicas em políticas públicas, da caminhada lésbica e das Conferências de Mulheres. A presidenta Dilma Rousseff foi destituída do cargo no meio da 4a Conferência Nacional de Mulheres, onde 3 mil mulheres de todas as regiões do país discutiam proposições de políticas públicas.

Jackeline Romio conversará sobre as narrativas que envolvem o corpo e a violência contra a mulher negra. Abordará o feminicídio racista de Luana Reis, morta por policiais militares pelo simples fato de ser negra, lésbica e mulher. Jackeline falará do manifesto feminista negro e de mulheres trans, lésbicas e bissexuais, feito para protestar contra o assassinato de Luana. Falará também da obra Além dos quartos, o primeiro livro de arte erótica feminista negra do Brasil, que contou com 42 escritoras e onze desenhistas, incluindo uma franco-marroquina e uma franco-sudanesa.

13h-15h / Intervalo para almoço

15h-17h / Combate 2: Arte feminista, esfera pública: os anos 1964 e os anos 2016
Debatedoras
Fabrícia Jordão / pesquisadora nos temas arte e ditadura e processos coletivos em arte
Talita Trizoli / pesquisadora nos temas arte e feminismos.
Mediação: Julia Ayerbe / Edições Aurora | Publication Studio São Paulo

Fabrícia Jordão conversará sobre o fim do MinC e o pedido de a volta do Ministério. Caso fosse restituído o status de ministério, como não ser isca de legitimação e naturalização da agenda de um governo golpista? Teríamos condições de articular, desde o interior do aparelho de estado, algum tipo de resistência? Quais as possibilidades e limites dos artistas e intelectuais para intervir nos órgãos e políticas públicas em contextos de ilegitimidade política? Para pensar essas questões e o impasse que vivemos hoje, faremos uma conexão entre dois momentos históricos o da redemocratização, com a criação da Funarte, e o tempo presente, com a extinção do MinC.

Talita Trizoli falará da questão do feminismo na arte. Presente há cerca de meia década nas atividades e pesquisas de artistas, críticos e historiadores, há algum tempo tema recorrente no cenário brasileiro, devido tanto ao levante de grupos militantes de jovens feministas, como também a uma série de ataques e supressões de direitos representativos das ditas “minorias”. A fim de verificar se essa onda feminista no campo artístico advém de um efetivo envolvimento político da arte com a vida, ou se se trata apenas de mais uma captura mercadológica do sistema comercial da arte, propõe-se aqui apontar alguns dados históricos pertinentes para se compreender essa imbricada relação, e suas possibilidades críticas.

17h-18h / Combate 3: Jornal de Borda 03 e Ensaio 6 – “Por que não houve grandes mulheres artistas?”, de Linda Nochlin
Roda de entrevistas
Fernanda Grigolin / Jornal de Borda | Tenda de Livros
Julia Ayerbe / Edições Aurora | Publication Studio São Paulo
Laura Daviña / Edições Aurora | Publication Studio São Paulo

PARTICIPANTES

Rita Cerqueira de Quadros< é servidora pública municipal da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, com graduação em Ciências Sociais. Feminista com atuação nos movimentos feministas e LGBT, ocupou a primeira cadeira do segmento de lésbicas e bissexuais no Conselho Nacional de Direitos da Mulher; participou do processo de construção das primeiras Paradas do Orgulho LGBT e das Caminhadas de Mulheres Lésbicas e Bissexuais.

Jackeline Romio é doutoranda e mestre em demografia pela Unicamp. Tem se dedicado ao estudo da violência contra mulher, feminicídios e desigualdades sociais de gênero e raça. Em 2013 fez parte do “Dossiê Mulheres Negras” da ONU Mulheres e IPEA, onde tratou da questão da vitimização de mulheres negras por agressão física no Brasil. Tem trabalho ativista com arte feminista negra junto ao coletivo Louva Deusas, foi idealizadora e editora de além dos quartos, o primeiro livro de arte erótica feminista negra do Brasil.

Cadu Oliveira é ativista LGBT e militante dos coletivos Revolta da Lâmpada e Cume, envolvido com ações de voluntariado desde 1996. Também fez parte da produção da Conferência [SSEX BBOX]. Tem MBA em Gestão de Pessoas pela Anhanguera, formado em Marketing e Vendas pela Universidade Anhembi Morumbi.

Fernanda Grigolin é artista visual, editora, pesquisadora, doutoranda em Artes Visuais na Unicamp. Por dez anos foi ativista de movimentos sociais no Brasil e na América Latina. Possui especialização em Direitos Humanos (USP) e é mestra em artes visuais pela Unicamp. É idealizadora do Jornal de Borda e da Tenda de Livros. Vive e trabalha entre Campinas e São Paulo.

Fabrícia Jordão é doutoranda na ECA-USP. Atualmente, como bolsista Fapesp, pesquisa as contribuições dos artistas e intelectuais para a institucionalização do campo das artes visuais e a consolidação de um campo discursivo, teórico e prático para a arte contemporânea durante a redemocratização brasileira.

Talita Trizoli é doutoranda em Educação e mestra pelo Programa Interunidades em Estética e História da Arte, com a dissertação Regina Vater. Por uma crítica feminista da arte brasileira. Bacharel e licenciada na área de Artes Visuais pela Universidade Federal de Uberlândia (2007), foi professora substituta na Faculdade de Artes Visuais e EAD da UFG, onde coordenou grupos de estudo e integrou atividades de pesquisa e extensão.

Júlia Ayerbe é bacharel em Ciências Sociais pela PUC-SP. De 2010 ao início de 2016 foi editora sênior da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Atua como tradutora de espanhol e editora independente. É integrante de Edições Aurora / Publication Studio São Paulo.

Laura Daviña é bacharel em Artes Plásticas (Faap) com pós-graduação lato sensu em design gráfico (USP-Mariantonia), foi editora de arte na SM Edições e na revista Pesquisa Fapesp. Em 2013 juntou-se a um grupo de artistas inaugurando o espaço autônomo .Aurora, onde mantém e organiza a Edições Aurora / Publication Studio São Paulo.

ORGANIZADORES

Edições Aurora traz para o campo editorial produções visuais e escritas sobre arte e política numa perspectiva expandida. Situa-se no espaço autônomo .Aurora, onde se realiza sua produção e abriga eventos e debates como forma de estimular a vida social do livro e a reflexão acerca de temas que nos provocam. Desde 2015, integra a plataforma internacional Publication Studio, projeto com o princípio de produzir livros sob demanda, viabilizar a publicação e a disseminação pelo mundo de autores que acreditamos e admiramos.

Tenda de Livros é um projeto de circulação de livros que promove encontros, exposições, bate-papos. A Tenda vem de um pensamento que acredita que a cultura e a arte são ferramentas para serem usadas na criação de plataformas políticas e em novas formações de público.

Jornal de Borda é uma publicação semestral de arte, idealizada e editada por Fernanda Grigolin. O projeto gráfico é de Lila Botter. Borda conta com a colaboração de artistas, editores, curadores e pesquisadores. Cada edição gira em torno de um tema: a primeira foi sobre o ato de editar, a segunda aborda circulação da arte, e na terceira os eixos condutores foram feminismos, teoria queer e afrocentralidade. O Jornal de Borda está no limite do que seria um jornal: utiliza-se do formato, da rapidez e do texto curto, mas sem o caráter noticioso.

Cidade Queer é uma iniciativa de Lanchonete.org com a fundação Musagetes. O programa conta com diversas ações que se articulam pela relação entre queerness e a vida na cidade contemporânea. Vincula-se à ideia de direito à cidade, estabelecida pelo filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre. O objetivo é abrir discussões sobre a possibilidade de vivência na cidade fora de uma lógica normativa e que expandam o próprio conceito de queer, tendo São Paulo como perspectiva.

Lançamento do programa Cidade Queer / Queer City

Por ocasião do 23o Festival Mix Brasil, a Lanchonete.org e a Musagetes oferecem em parceria um programa de atividades centradas na relação entre queerness e a vida na cidade contemporânea.

Por ocasião do 23o Festival Mix Brasil, a Lanchonete.org e a Musagetes oferecem em parceria um programa de atividades centradas na relação entre queerness e a vida na cidade contemporânea.

O programa conta com quatro partes: uma sessão de cinema, um painel de discussão, uma caminhada pelo centro da cidade e uma conversa aberta.

Ele servirá para lançar um trabalho de seis meses sobre queerness e a vida na cidade contemporânea – de certa forma relacionado à ideia de direito à cidade, estabelecida pelo filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre –, envolvendo participantes locais (e internacionais) que atuam como artistas, ativistas, urbanistas, arquitetos, pesquisadores, pensadores e também pessoas com quem simplesmente compartilhamos a cidade.

Queerness é um termo bastante amplo e que certamente pode ser vinculado a uma série de políticas e realidades LGBT+, além de histórias, futuros e lugares. Dentro dos nossos objetivos, o programa de lançamento busca abrir uma discussão acerca de como vivemos, trabalhamos, compartilhamos e sobrevivemos na cidade contemporânea, tendo São Paulo como perspectiva. Assim, estamos igualmente interessados em reconhecer as bases comuns e entender contranarrativas. Ao final desse ciclo de seis meses, espera- mos apenas que a sugestão de um prisma queer seja capaz de incentivar discussões frutíferas e interrogações coletivas sobre como convivemos na cidade.

Carlos Motta (Colômbia) e Maya Mikdashi (Líbano) trazem como colaboração para o festival o filme Desejos / رغبات, um curta que expõe a maneira como medicina, legislação e religião moldam discursos de um corpo generificado. Depois da estreia do filme, Carlos e Maya concordaram que ele sugere um futuro queer positivo.

Como pensadores no sentido mais amplo do termo, con- vidamos Carlos e Maya a participar de um painel de discussão na sexta-feira, 20 de novembro, junto com o arte-educador e autor Ezio Rosa, e a ativista e agente pública Symmy Larrat para compartilhar experiências e abordar como o conceito de queerness (e talvez o conceito irmão de interseccionalidade) se relaciona com o direito à cidade… e o que podemos esperar de um futuro urbano queer.

E no sábado, dia 21 de novembro, acontecerá uma caminhada pelo Centro de São Paulo conduzida pelo ator Paulo Goya com participação da Rede Paulista de Educação Patrimonial (Repep) e convidados, buscando relembrar a história queer da região através de relatos pessoais de um morador de longa data.

 


sessão de filme

exibição de Desejos (32’) + Histórias de nossas vidas (60’) 14 de novembro às 18h e 20 de novembro às 16h @ Centro Cultural São Paulo (CCSP), Sala Paulo Emílio

Desejos / رغبات expõe a maneira como medicina, legislação e religião moldaram os discursos de um corpo generificado através da narração de duas histórias: a de Martina, que viveu na Colômbia no século xix e foi julgada por ser herma- frodita, e a de Nour, que viveu em Beirute durante o Império Otomano e foi forçada a se casar com o irmão da mulher que amava. Misturando documentário e ficção, o filme apresenta uma correspondência entre essas duas mulheres que en- frentaram as consequências de viver relações homoafetivas e desafiar as normas de gênero. Desejos / رغبات foi produzido pela House of Council.

 

painel cidade queer

com Carlos Motta, Maya Mikdashi, Ezio Rosa 20 de novembro às 18h @ Centro Cultural São Paulo (CCSP), Sala Paulo Emílio

A luta LGBT+ por reconhecimento legal e social é histórica. Em muitos momentos da história Ocidental se viu a falta de respaldo legal ao modo de vida das comunidades LGBT+, muitas vezes criminalizando formas de vida dentro de so- ciedades estruturadas hegemonicamente. A obra de Carlos

Motta e Maya Mikdashi, Desejos, faz uma transposição tem- poral e espacial de dois arranjos sociais em diferentes países que demonstram como o não-hegemônico era repreendido em uma vã tentativa de aniquilar o que era considerado como diferente, anormal, queer, em relação aos padrões do início do século xix. Uma na Colômbia e a outra em Istambul, essas personagens nos levam a questionar e perceber que, para o macrossistema, o ato de apenas ser poderia ser considerado como “antinatural” ou, ainda, “contra a natureza”.

O arcabouço jurídico para a definição de normas sociais e culturais é uma preocupação constante para os ativistas que tentam demonstrar quão natural é a vida das comunidades LGBT+. Desde a proibição jurídica de relacionamentos homo- afetivos, passando por considerar que a orientação sexual pudesse ser causada por uma doença, até definições do que seria uma família em estatutos federais que orientam políticas públicas sociais.

Aqui no Brasil, temos dois casos extremamente emble- máticos que puxam e reestruturam esses marcos legais que envolvem não só a questão de gêneros, mas também de liber- dades individuais. O primeiro é da trans* Indianara Siqueira, que durante a Marcha das Vadias, no Rio de Janeiro, foi julgada por ultraje público ao pudor por andar sem camiseta, com os peitos de fora, durante seu protesto “Meu Peito, Minha Ban- deira, Meu Direito”. A questão é que, por ser trans*, ela ainda é registrada pelos meios legais como sendo do sexo mascu- lino. E, culturalmente, os homens podem andar sem camisa nos espaços públicos sem nenhum problema. Então, cria-se

um impasse, como bem explica a ativista: “Se [a justiça] me condenar, estará reconhecendo legalmente que, socialmente, eu sou mulher e o que vale é minha identidade de gênero, e não o sexo declarado em meus documentos. Isso, então, criará jurisprudência para que todas xs pessoas trans* sejam respei- tadxs pela sua identidade de gênero e não pelo sexo declarado ao nascer. Se reconhecer que sou homem, como consta nos documentos, estará me dando o direito de caminhar com os seios desnudos em qualquer lugar público, onde homens assim o fazem, mas também estará dizendo que homens e mulheres não são iguais em direito”.

O segundo caso é a aprovação da Câmara dos Deputados para o texto do Estatuto da Família, que define família como apenas a união entre homem e mulher, excluindo grande parte da sociedade brasileira. Nesse caso, se a família só é gerada na união heteronormativa, o que dizer quando uma mulher trans* casa com um homem trans* e geram uma criança biológica?

Essa exclusão das discussões aprofundadas de gêneros em meios legais é histórica e reverbera até hoje em nossa sociedade cada vez mais conservadora. Mostrar os dilemas e contradições que essa ausência de debate provoca é um dos intuitos desta mesa.

 


 

On the occasion of the 23rd Annual Mix Brasil Festival – in partnership – Lanchonete.org and Musagetes bring a program of activities focused on the relationship between queerness and life in the contemporary city.

The program is in four parts: a film screening, a panel, a walk in the city center, and an open discussion.

It serves to launch a six-month inquiry on queerness and life in the contemporary city – something relatable to the idea of French philosopher and sociologist Henri Lefebvre of a Right to the City – that will engage local (and international) artists, activists, urban planners, architects, researchers, thinkers, and simply people with whom we share the city.

Queerness is a broad term, one that can certainly be linked to a range of LGBT+ politics and realities, as well as histories, futures and places. For our purposes, the launch program seeks to open a discussion on how we live and work in, share and survive the contemporary city, with São Paulo as our outlook. We are therefore equally interested in acknowledging common ground and understanding counter narratives. By the end of the six-month cycle, we only hope

that suggesting a lens of queerness will have encouraged fruitful discussions and joint interrogation of how we share the city.

Carlos Motta (Colombia) and Maya Mikdashi (Lebanon) bring their film collaboration, Deseos /رغبات to the festival, a short that exposes ways in which medicine, law and religion shape discourses of the gendered body. After the film’s debut, Carlos and Maya agreed in conversation that the film suggests a positive queer future.
As broad thinkers, we invite Carlos and Maya to join a panel discussion Friday, November 20th, with art-educator/ author Ezio Rosa and activist/public official Symmy Larrat to share experiences and consider how queerness (and perhaps a sister word, intersectionality) relates to a Right to the City… and what a queer urban future might look like.

And, on Saturday, November 21st, there will be a walk
in the Center of São Paulo led by the actor Paulo Goya and with the participation of the São Paulo Network of Heritage Education (Repep) and invitees, with a goal of remembering the queer history of the area through the personal account of a longtime denizen.

film screening

screening of Deseos (32’) + Stories of Our Lives (60’) November 14th, 6pm / November 20th, 4pm
@ Centro Cultural São Paulo (CCSP), Paulo Emilio Theatre

Deseos /رغبات exposes the ways in which medicine, law and religion shaped discourses of the gendered body through the narration of two stories: Martina’s, who lived in Colombia in the 19th century and was prosecuted for being a hermaph- rodite, and Nour’s, who lived in Beirut during the Ottoman Empire and was forced to marry to her female lover’s brother. Part documentary and part fiction, the film presents a cor- respondence between two women who faced the conse- quences of engaging in same sex relations and defying gender norms. Deseos / رغبات was produced by House of Council.

queer city panel discussion

w/ Carlos Motta, Maya Mikdashi, Ezio Rosa & Symmy Larrat

November 20th, 6pm @ Centro Cultural São Paulo (CCSP), Paulo Emilio Theatre

The LGBT+ fight for both legal and social acknowledgement is a historical one. In several moments of the Western history, we observe a lack of legal support to the modus vivendi of such communities, often criminalizing such lifestyles within hegemonically structured societies. Deseos / رغبات , the film by Carlos Motta and Maya Mikdashi, works over a time-

space transposition of two social arrangements in different countries, thus depicting how nonhegemonic situations used to be reprehended in a vain attempt to annihilate what was then considered different, abnormal, queer, regarding the standards of the 19th century. One from Colombia and the other from Istanbul, these two characters lead us to question and realize that, for the macrosystem, the simple act of being could be envisaged as “unnatural” or even “against nature.”

The legal structure that defines the social and cultural norms is subject of constant concern to activists attempting to demonstrate how natural the life of LGBT+ communities can be. Starting from the legal ban on same sex relations and going through the notion that the the sexual orientation could be caused by a disease, until reaching the definitions of what is a family for federal statutes orienting social public policies.

Here in Brazil, we have two extremely emblematic cases that strain and restructure such legal touchstones regard- ing not only the gender issue, but also that of individual freedoms. The first one is the situation of Indianara Siqueira, a trans* that, during the Slut Walk in Rio de Janeiro, was prose- cuted for public outrage against decency simply for marching shirtless, breasts exposed, on her protest “My Breasts, My Flag, My Right.” The issue is that, for being trans*, she is still legally acknowledged as male. And culturally, men can walk around shirtless in public spaces without problems. It then creates a stalemate, as the activist well puts it: “If they [the court] want to condemn me, they’ll be legally acknowledging that, socially, I am a woman, and that what counts is my

gender identity, rather than the gender stated on my docu- ments. Such situation will then establish a jurisprudence for trans* people to be respected for their gender identity, and not for the sex they were born with. On the other hand, by acknowledging I am a man, as my documents affirm, they’ll give me the right to walk around with my breasts exposed in public spaces just as men do, but will also state that men and women have no equality of rights.”

The second case is the approval of the Family Statute at the House of Representatives, which defines family as the union of a man and a woman, period, thus setting aside most of the Brazilian society. In this case, if a family can only exist under heteronormativity, what to say when a trans* woman marries a trans* man and they give birth to a biological child?

Such exclusion of a thorough gender discussion on the legal spheres has a historical character and echoes yet today in our increasingly conservative society. To bring to surface the dilemmas and contradictions ensuing from this lack of debate is one of the goals of this panel.