Projeto CABINE – cineclube Aurora

O espaço .Aurora e o programa Cidade Queer têm o prazer de receber o projeto CABINE dos artistas Bruno Mendonça e Natalia Coutinho. Dias 30 de Junho, 7 e 14 de Julho, 20-23 hrs no Aurora e 21 de Julho, 19-23 hrs durante o Janta no Casarão do Belvedere.

Cineclube .Aurora + Cidade Queer

O espaço .Aurora e o programa Cidade Queer, desenvolvido por Lanchonete.org com o apoio de Musagetes, tem o prazer de receber o projeto CABINE dos artistas Bruno Mendonça e Natalia Coutinho.

O projeto CABINE surgiu de um intenso processo de interlocução nos últimos anos entre os artistas e para eles consiste em uma publicação espacializada através de materiais audiovisuais e impressos: uma espécie de zona discursiva e dialógica onde os artistas expandem esse processo e exibem parte do cruzamento de suas pesquisas.

A partir de processos de montagem e manipulação de materiais audiovisuais que fazem parte de suas pesquisas, os artistas criam um outro produto audiovisual a partir da apropriação de filmes e vídeos, inteiros ou não – no caso se utilizando de excertos, fragmentos e stills – criando uma espécie de hipertexto ou metanarrativa que vai se construindo a partir de ligações ora diretas, ora indiretas e muitas vezes subjetivas. É uma espécie de outra-escrita que surge a partir destas ligações. A temática queer é central neste trabalho, abordada em sua abrangência. Mais especificamente para esta edição do Cineclube adiciona-se à discussão entorno do termo queer sua relação com a cidade. Serão apresentadas ao público durante o mês de julho três vídeo-instalações juntamente com mobiliários contendo os materiais impressos, e uma performance final. Nos dias 30 de Junho, 7 e 14 de Julho o projeto acontece no .Aurora, e a performance final se dará dia 21 de Julho, como parte do encontro mensal do Cidade Queer, nomeado Janta, no Casarão do Belvedere.

SERVIÇO:

Cineclube Cabine + Cidade Queer

30 de Junho, 7 e 14 de Julho, 20-23 hrs

Local: .Aurora

Rua Aurora, 858, República, São Paulo

Cineclube .Aurora no Janta

21 de Julho, 19-23 hrs

Local: Casarão do Belvedere

Rua Pedroso 267/283 e Martiniano de Carvalho 439, São Paulo

Laboratório gráfico queer — encontro 4

IMG_6035No quarto encontro levantamos a questão da normatividade nas publicações. Para além do problema das fronteiras das línguas e traduções, é possível superar a dicotomia forma X conteúdo? Projeto X processo? Como desnormatizar as operações e decisões editoriais e de design gráfico? Como desviar dos estabelecidos cânones? Cada integrante levou exemplos de publicações que de alguma forma abordam as margens e interceções entre conteúdo e forma. Pensar a estrutura de um livro em projeto editorial é tratar da forma do projeto. A forma não é apenas vinculada ao design mas também a escolhas e decisões editoriais. O design por vezes traz um excesso que confunde ao invés de ressaltar e trabalhar no mesmo sentido do conteúdo. No caso de uma publicação que questione os cânones tanto das normas da língua, quanto editoriais e de desenho gráfico, como orquestrar o projeto para além dessa dicotomia forma X conteúdo? É possível superar essa forma binária de entendimento de um projeto?

Além dessas questões, o problema da normatividade na cidade foi  levantado por Thiago Carrapatoso, que propôs levar a problemática discutida no grupo sobre língua para a vivência na cidade para pensarmos dentro do projeto Cidade Queer. Como repensar a sinalização das placas de ruas ou uso do espaço público? Propor uma nova sinalização para enfatizar o uso público por exemplo é cuirificar um pouco a cidade.

 

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Laboratório gráfico queer — encontro 3

No terceiro encontro o incômodo com a tradução ou não-tradução do termo queer acabou sendo amenizado com a solução de palavras análogas que podem percorrer um texto. Para substituição da palavra “queer” pelas análogas/sinônimos, Thiago Hersan, o garoto de programação do grupo, desenvolveu um plugin para o browser Google Chrome onde é possível inserir palavras quaisquer no box de opções e em seguida automaticamente as palavras “queer” que aparecerem nas páginas do browser serão substituídas pelas novas escolhas de palavras vizinhas ou análogas. A extensão sorteia uma palavra diferente toda vez que o browser encontra a palavra “queer”. Para ver e modificar a lista de palavras é só clicar em “options”, clicando no ícone que fica no canto superior direito (ver foto).

Para instalar é só clicar no link: https://chrome.google.com/webstore/detail/laborat%C3%B3rio-gr%C3%A1fico-cidad/dfajjdldolemeglihppihihacdhhcmgj.

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Outro exercício realizado foi em relação a questão do gênero em nossa língua. Fabio Morais partiu da tradução do primeiro parágrafo do Manifesto do Ciborgue da Donna Haraway para colocar o texto apenas no masculino e outra versão apenas no feminino, lado a lado. Seria possível uma versão neutra?
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IMG_5916A solução de uma nova vogal para a escrita cuír latina está sendo estudada por Laura Daviña que desenhou alguns tipos e criou possibilidades de substituição na tipografia Times. Cuirificando a fonte para criar a Cuir Roman Times. A proposta do laboratório acabou tomando um caminho de reforma da língua e não a estética. O gráfico tentará dar conta da representação/tradução do não-normativo.

 

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Laboratório gráfico queer — encontro 2

Screen Shot 2016-06-05 at 7.19.03 PMO segundo encontro se inicia com a retomada da questão da tradução do termo queer e o problema das línguas latinas referente ao gênero.

Abordar queer para além da questão de gênero e sexualidade é trazer de volta suas raízes etimológicas/históricas? Tudo o que não se encontra em definitivo, categorizado, catalogado, é queer? O artista-ornitorrinco. O ciborgue, awkward, unheimlich (o estranho familiar, inquietante, ameaçador). Mais interessante talvez do que a tradução do termo seria fazer uma lista de palavras análogas para dar conta de queer enquanto conceito que queremos abordar no Laboratório e no projeto Cidade Queer.

“Podemos reunir todas aquelas propriedades de pessoas, coisas, impressões sensórias, experiências e situações que despertam em nós o sentimento de estranheza, e inferir, então, a natureza desconhecida do estranho a partir de tudo o que esses exemplos têm em comum”

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palavras análogas

estranho, divergente, disruptor, imigrante, diferente, invertido, esquisito, perturbador, irreconhecível, menor, cuír, ativista, libertino, marginal, apartado, inoportuno, torto, desavergonhado, alheio, meliante, degenerado, inquietante, impertinente, anormal, esquivo, excêntrico, ermo, singular, assaltante, desviante, imigrante, diferente, invertido, esquisito, irreconhecível, anômalo, anormal, atípico, bizarro, defeituoso, deformado, desviado, duvidoso, errado, esdrúxulo, estapafúrdio, estrangeiro, estropiado, excêntrico, excepcional, exótico, extraordinário, extravagante, grosseiro, imperfeito, inabitual, incomum, indecente, infrequente, intruso, irregular, mal-acabado, oblíquo, refugiado, sem-vergonha, tosco, traiçoeiro, transviado, vagabundo

 

A língua produz um mundo. A linguagem, a língua falada, se transforma o tempo todo para dar conta das transformações sociais, bem como tais transformações afetam nossa língua. Pajubá foi um exemplo levantado, durante o encontro, de linguagem que foi se transformando e se imbricando em diferentes meios sociais, uma língua de resistência que atravessou algumas fronteiras que agora “está na novela”.

A linguagem escrita por sua vez é dura e estática, não dá conta da transitoriedade, de não definições. Ao tentarmos a solução do uso do X no lugar do artigo onde existe a flexão de gênero das línguas latinas acabamos imponto uma não fala, uma espécie de bloqueio vocal. A consoante não permite fala e o que transforma a linguagem é a fala em exercício. E se substituirmos por uma outra vogal?

 

Laboratório gráfico queer — encontro 1

No primeiro encontro do Laboratório problematizamos a questão da normatividade e padrões de representação predeterminados. Tomando como ponto de partida alguns exemplos, como uso de cores para diferenciar sexo e tipografias pré-estabelecidas em sinalização urbana e softwares, cada integrante foi trzendo um pouco de sua experiência. Seria possível fugir da normatividade sem impor ou estabelecer uma nova norma? Talvez o único meio a partir do qual pode representar sem se basear em pré-definições seria a própria voz. A escrita com próprio punho. A autorepresentação.

LGQA partir do conhecimento de cada um, cada background, foram sendo construídos nexos de relações sobre os temas abordados. Durante o encontro, realizamos buscas e pesquisas no computador que impulsionavam a discussão. Uma questão basal que tomou foco do encontro foi o termo queer. Qual significado essa palavra tem em nosso âmbito? Ficou muito claro que no inglês o termo tem uma etimologia e história clara, ele é carregado de sentidos vários. Ao importarmos “queer” (cuja raiz etimológica não nos remete a nenhuma relação) vinculamos apenas ao sentido da teoria queer, relacionando à temática de gênero e sexo. Quando pensamos o termo “queerness” do programa Cidade Queer é muito claro que não é apenas de gênero que estamos tratando, mas de um viés includente na cidade em oposição à normatividade. Temos então um problema de tradução e comunicação. Como comunicar esse queer com sentido maior? Seria preciso traduzir?

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Nessa primeira experiência juntos foi possível criar um arcabouço material a partir das discussões que foi sendo salvo no Pinterest: pinterest.com/jliaayerbe/laboratório-gráfico-queer/. A ideia é que no decorrer do programa essa seja uma ferramenta de uso comunitário aberto.
 

Arte e feminismos no combate ao autoritarismo

O evento “Arte e feminismos no combate ao autoritarismo” foi um encontro para discutir possibilidades políticas e conexões afetivas em tempos difíceis, com foco na arte e feminismos como campos de resistência e diversidade. A programação teve a participação de ativistas, feministas, pesquisadoras, artistas e editoras, e o apoio do programa Cidade Queer (Lanchonete.org e Musagetes) e Jornal de Borda.

Além das três mesas de debate houve lançamentos do Jornal de Borda 3 e Ensaio 6 – “Por que não houve grandes mulheres artistas?” de Linda Nochlin, no .Aurora.

CONTEXTO

Neste exato momento, muitos artistas ocupam prédios da Funarte em cidades brasileiras. A reitoria da Unicamp está ocupada, e os secundaristas lutam pelo direito à educação. Entre as reivindicações dos que resistem está a volta da presidenta democraticamente eleita.

A primeira mulher presidente do país foi destituída do cargo em plena Conferência Nacional de Mulheres, momento em que se apontava a necessidade de criação do Sistema Nacional de Políticas para as Mulheres.

PROGRAMAÇÃO

11-13h / Combate 1: Ativismo, direitos sexuais e feminismos
Debatedorxs
Rita Quadros / ativista lésbica feminista
Jackeline Romio / ativista do feminismo negro
Mediação: Fernanda Grigolin / Jornal de Borda | Tenda de Livros

Rita Quadros falará da história das ações das mulheres lésbicas em políticas públicas, da caminhada lésbica e das Conferências de Mulheres. A presidenta Dilma Rousseff foi destituída do cargo no meio da 4a Conferência Nacional de Mulheres, onde 3 mil mulheres de todas as regiões do país discutiam proposições de políticas públicas.

Jackeline Romio conversará sobre as narrativas que envolvem o corpo e a violência contra a mulher negra. Abordará o feminicídio racista de Luana Reis, morta por policiais militares pelo simples fato de ser negra, lésbica e mulher. Jackeline falará do manifesto feminista negro e de mulheres trans, lésbicas e bissexuais, feito para protestar contra o assassinato de Luana. Falará também da obra Além dos quartos, o primeiro livro de arte erótica feminista negra do Brasil, que contou com 42 escritoras e onze desenhistas, incluindo uma franco-marroquina e uma franco-sudanesa.

13h-15h / Intervalo para almoço

15h-17h / Combate 2: Arte feminista, esfera pública: os anos 1964 e os anos 2016
Debatedoras
Fabrícia Jordão / pesquisadora nos temas arte e ditadura e processos coletivos em arte
Talita Trizoli / pesquisadora nos temas arte e feminismos.
Mediação: Julia Ayerbe / Edições Aurora | Publication Studio São Paulo

Fabrícia Jordão conversará sobre o fim do MinC e o pedido de a volta do Ministério. Caso fosse restituído o status de ministério, como não ser isca de legitimação e naturalização da agenda de um governo golpista? Teríamos condições de articular, desde o interior do aparelho de estado, algum tipo de resistência? Quais as possibilidades e limites dos artistas e intelectuais para intervir nos órgãos e políticas públicas em contextos de ilegitimidade política? Para pensar essas questões e o impasse que vivemos hoje, faremos uma conexão entre dois momentos históricos o da redemocratização, com a criação da Funarte, e o tempo presente, com a extinção do MinC.

Talita Trizoli falará da questão do feminismo na arte. Presente há cerca de meia década nas atividades e pesquisas de artistas, críticos e historiadores, há algum tempo tema recorrente no cenário brasileiro, devido tanto ao levante de grupos militantes de jovens feministas, como também a uma série de ataques e supressões de direitos representativos das ditas “minorias”. A fim de verificar se essa onda feminista no campo artístico advém de um efetivo envolvimento político da arte com a vida, ou se se trata apenas de mais uma captura mercadológica do sistema comercial da arte, propõe-se aqui apontar alguns dados históricos pertinentes para se compreender essa imbricada relação, e suas possibilidades críticas.

17h-18h / Combate 3: Jornal de Borda 03 e Ensaio 6 – “Por que não houve grandes mulheres artistas?”, de Linda Nochlin
Roda de entrevistas
Fernanda Grigolin / Jornal de Borda | Tenda de Livros
Julia Ayerbe / Edições Aurora | Publication Studio São Paulo
Laura Daviña / Edições Aurora | Publication Studio São Paulo

PARTICIPANTES

Rita Cerqueira de Quadros< é servidora pública municipal da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, com graduação em Ciências Sociais. Feminista com atuação nos movimentos feministas e LGBT, ocupou a primeira cadeira do segmento de lésbicas e bissexuais no Conselho Nacional de Direitos da Mulher; participou do processo de construção das primeiras Paradas do Orgulho LGBT e das Caminhadas de Mulheres Lésbicas e Bissexuais.

Jackeline Romio é doutoranda e mestre em demografia pela Unicamp. Tem se dedicado ao estudo da violência contra mulher, feminicídios e desigualdades sociais de gênero e raça. Em 2013 fez parte do “Dossiê Mulheres Negras” da ONU Mulheres e IPEA, onde tratou da questão da vitimização de mulheres negras por agressão física no Brasil. Tem trabalho ativista com arte feminista negra junto ao coletivo Louva Deusas, foi idealizadora e editora de além dos quartos, o primeiro livro de arte erótica feminista negra do Brasil.

Cadu Oliveira é ativista LGBT e militante dos coletivos Revolta da Lâmpada e Cume, envolvido com ações de voluntariado desde 1996. Também fez parte da produção da Conferência [SSEX BBOX]. Tem MBA em Gestão de Pessoas pela Anhanguera, formado em Marketing e Vendas pela Universidade Anhembi Morumbi.

Fernanda Grigolin é artista visual, editora, pesquisadora, doutoranda em Artes Visuais na Unicamp. Por dez anos foi ativista de movimentos sociais no Brasil e na América Latina. Possui especialização em Direitos Humanos (USP) e é mestra em artes visuais pela Unicamp. É idealizadora do Jornal de Borda e da Tenda de Livros. Vive e trabalha entre Campinas e São Paulo.

Fabrícia Jordão é doutoranda na ECA-USP. Atualmente, como bolsista Fapesp, pesquisa as contribuições dos artistas e intelectuais para a institucionalização do campo das artes visuais e a consolidação de um campo discursivo, teórico e prático para a arte contemporânea durante a redemocratização brasileira.

Talita Trizoli é doutoranda em Educação e mestra pelo Programa Interunidades em Estética e História da Arte, com a dissertação Regina Vater. Por uma crítica feminista da arte brasileira. Bacharel e licenciada na área de Artes Visuais pela Universidade Federal de Uberlândia (2007), foi professora substituta na Faculdade de Artes Visuais e EAD da UFG, onde coordenou grupos de estudo e integrou atividades de pesquisa e extensão.

Júlia Ayerbe é bacharel em Ciências Sociais pela PUC-SP. De 2010 ao início de 2016 foi editora sênior da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Atua como tradutora de espanhol e editora independente. É integrante de Edições Aurora / Publication Studio São Paulo.

Laura Daviña é bacharel em Artes Plásticas (Faap) com pós-graduação lato sensu em design gráfico (USP-Mariantonia), foi editora de arte na SM Edições e na revista Pesquisa Fapesp. Em 2013 juntou-se a um grupo de artistas inaugurando o espaço autônomo .Aurora, onde mantém e organiza a Edições Aurora / Publication Studio São Paulo.

ORGANIZADORES

Edições Aurora traz para o campo editorial produções visuais e escritas sobre arte e política numa perspectiva expandida. Situa-se no espaço autônomo .Aurora, onde se realiza sua produção e abriga eventos e debates como forma de estimular a vida social do livro e a reflexão acerca de temas que nos provocam. Desde 2015, integra a plataforma internacional Publication Studio, projeto com o princípio de produzir livros sob demanda, viabilizar a publicação e a disseminação pelo mundo de autores que acreditamos e admiramos.

Tenda de Livros é um projeto de circulação de livros que promove encontros, exposições, bate-papos. A Tenda vem de um pensamento que acredita que a cultura e a arte são ferramentas para serem usadas na criação de plataformas políticas e em novas formações de público.

Jornal de Borda é uma publicação semestral de arte, idealizada e editada por Fernanda Grigolin. O projeto gráfico é de Lila Botter. Borda conta com a colaboração de artistas, editores, curadores e pesquisadores. Cada edição gira em torno de um tema: a primeira foi sobre o ato de editar, a segunda aborda circulação da arte, e na terceira os eixos condutores foram feminismos, teoria queer e afrocentralidade. O Jornal de Borda está no limite do que seria um jornal: utiliza-se do formato, da rapidez e do texto curto, mas sem o caráter noticioso.

Cidade Queer é uma iniciativa de Lanchonete.org com a fundação Musagetes. O programa conta com diversas ações que se articulam pela relação entre queerness e a vida na cidade contemporânea. Vincula-se à ideia de direito à cidade, estabelecida pelo filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre. O objetivo é abrir discussões sobre a possibilidade de vivência na cidade fora de uma lógica normativa e que expandam o próprio conceito de queer, tendo São Paulo como perspectiva.

Janta #4 – O queer na tecnologia

Nesta edição de “Janta – Comida Queer, Política Queer” o tema a ser tratado é o na tecnologia. Discussões e trocas de experiência sobre a temática aconteceram informalmente ao redor da mesa.

O encontro “Janta – Comida queer, Política queer” desta edição tratou do tema queer na tecnologia. O jantar mais uma vez aconteceu no Casarão do Belvedere, na Bela Vista, tendo como anfitrião o ator Paulo Goya. Discussões e trocas de experiência sobre a temática se deram de forma tranquila ao redor da mesa.

Nos anos recentes, se viu um crescimento da discussão de gênero dentro do mundo da tecnologia, tendo as mulheres conseguido grande protagonismo ao organizar eventos como a RodAda Hacker, PrograMaria, entre outros. No ano passado, o grupo Laboria Cuboniks lançou o manifesto Xenofeminsmo em que argumenta por um outro princípio de feminismo, que envolve a tecnologia em sua estrutura óssea. Como diz o manifesto, “XF constrói um feminismo adaptado [à ubiquidade tecnológica]: um feminismo com habilidades, escalas e visões sem precedentes; um futuro em que a realização da justiça de gênero e emancipação feminista contribuem para uma política universalista construída das necessidades de cada humano, trespassando gênero, habilidade, capacidade econômica, e posição geográfica. Sem mais a repetição sem futuro na esteira do capital, sem mais a submissão à escravidão do trabalho – produtivo e reprodutivo –, sem mais a reificação do que é dado mascarado de crítica. Nosso futuro requer despetrificação. XF não é uma tentativa para revolução, mas uma aposta no longo jogo da história, demandando imaginação, destreza e persistência.”

O manifesto por si só demonstra uma perspectiva diferente sobre o que é a tecnologia dentro de nossa sociedade. Ela deixa de ser apenas um objeto, um serviço, ou um apêndice de nossa vida diária para se tornar a arma e o cerne das discussões feministas e de gênero. E como fica a perspectiva queer neste processo? O pesquisador Jacob Gaboury escreveu uma série de artigos para o portal Rhizome sobre a história queer da computação. Para ele, por causa de nosso processo heteronormativo hegemônico, a história da computação e, consequentemente, da tecnologia foi reduzida a apenas figuras masculinas, heterossexuais e, em sua grande maioria, branca. Gaboury, então, por meio da biografia de diversos personagens importantes para a evolução tecnológica, prova que a perspectiva queer está enraizada na própria tecnologia, sendo ela criada e refletida pela Diferença de seus agentes.

A realidade hoje, porém, mostra que ainda há muito o que se lutar dentro do cenário tecnológico para que haja, realmente, uma representatividade paritária dentro de um sistema por muitas vezes preconceituoso e misógino. Recentemente, o jogo “Baldur’s Gate: Siege of Dragonspear” se viu envolto de uma polêmica por causa de uma personagem transsexual no meio da trama da narrativa. Diversos jogadores se manifestaram contra a personagem em sites como GOG ou Steam com discursos de ódio ou preconceituosos. A manifestação fez com que os criadores do jogo alterassem as falas da personagem de forma a amenizar sua explicação sobre ser transsexual.

Pensando que no XF a arma é a tecnologia, como podemos usar os mecanismos tecnológicos – que, segundo Gaboury, é nosso por essência – para mudar essa perspectiva?