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Janta #4 – O queer na tecnologia

O encontro “Janta – Comida queer, Política queer” desta edição tratou do tema queer na tecnologia. O jantar mais uma vez aconteceu no Casarão do Belvedere, na Bela Vista, tendo como anfitrião o ator Paulo Goya. Discussões e trocas de experiência sobre a temática se deram de forma tranquila ao redor da mesa.

Nos anos recentes, se viu um crescimento da discussão de gênero dentro do mundo da tecnologia, tendo as mulheres conseguido grande protagonismo ao organizar eventos como a RodAda Hacker, PrograMaria, entre outros. No ano passado, o grupo Laboria Cuboniks lançou o manifesto Xenofeminsmo em que argumenta por um outro princípio de feminismo, que envolve a tecnologia em sua estrutura óssea. Como diz o manifesto, “XF constrói um feminismo adaptado [à ubiquidade tecnológica]: um feminismo com habilidades, escalas e visões sem precedentes; um futuro em que a realização da justiça de gênero e emancipação feminista contribuem para uma política universalista construída das necessidades de cada humano, trespassando gênero, habilidade, capacidade econômica, e posição geográfica. Sem mais a repetição sem futuro na esteira do capital, sem mais a submissão à escravidão do trabalho – produtivo e reprodutivo –, sem mais a reificação do que é dado mascarado de crítica. Nosso futuro requer despetrificação. XF não é uma tentativa para revolução, mas uma aposta no longo jogo da história, demandando imaginação, destreza e persistência.”

O manifesto por si só demonstra uma perspectiva diferente sobre o que é a tecnologia dentro de nossa sociedade. Ela deixa de ser apenas um objeto, um serviço, ou um apêndice de nossa vida diária para se tornar a arma e o cerne das discussões feministas e de gênero. E como fica a perspectiva queer neste processo? O pesquisador Jacob Gaboury escreveu uma série de artigos para o portal Rhizome sobre a história queer da computação. Para ele, por causa de nosso processo heteronormativo hegemônico, a história da computação e, consequentemente, da tecnologia foi reduzida a apenas figuras masculinas, heterossexuais e, em sua grande maioria, branca. Gaboury, então, por meio da biografia de diversos personagens importantes para a evolução tecnológica, prova que a perspectiva queer está enraizada na própria tecnologia, sendo ela criada e refletida pela Diferença de seus agentes.

A realidade hoje, porém, mostra que ainda há muito o que se lutar dentro do cenário tecnológico para que haja, realmente, uma representatividade paritária dentro de um sistema por muitas vezes preconceituoso e misógino. Recentemente, o jogo “Baldur’s Gate: Siege of Dragonspear” se viu envolto de uma polêmica por causa de uma personagem transsexual no meio da trama da narrativa. Diversos jogadores se manifestaram contra a personagem em sites como GOG ou Steam com discursos de ódio ou preconceituosos. A manifestação fez com que os criadores do jogo alterassem as falas da personagem de forma a amenizar sua explicação sobre ser transsexual.

Pensando que no XF a arma é a tecnologia, como podemos usar os mecanismos tecnológicos – que, segundo Gaboury, é nosso por essência – para mudar essa perspectiva?